Karma

Sozinho no quarto àquela hora da madrugada provocando os próprios nervos, Suzanne Vega reading a newspaper, só por diversão. Do outro lado da tela, o outro espera por um sinal eletrônico, talvez, um sinal que não vai vir tão cedo, porque não sou desses, porque em seguida eu durmo assistindo um seriado qualquer escrito por uma ex-stripper ou seja lá o que for. Suponho.
Detalhes. Lua em gêmeos, ha, praticamente satanás, foi o que me disseram. Eu nunca disse que era uma pessoa boa, mas tenho ascendente em virgem, então o pessoal vai logo pensando que eu sou uma pessoa boa, e bem organizada e competente – competente, minha vida é o caos, cara. Mas eu sou ateu, graças a deus, nem acredito nessas coisas: só pega em quem acredita.
O outro dia passa sem manhã, querendo ou não, já são seis horas, e a garganta arranha e machuca e o esôfago infla com todo o vazio do mundo. Quem garante, quem garante, melhor mesmo é sentar-se na cama, bem aquecido, preparado, mas inerte, e esperar a vida passar. E se eu morro, aquela pergunta, ora: se eu morro é melhor. Vou ficar aqui quietinho fingindo que já morri só para experimentar como é e quem sabe provar meu ponto de vista. Quem sabe, quem sabe.
Quando chega a hora me despeço do orgulho, ritual de passagem, conecto e penso “quanto de paciência existe no mundo”. Nada, nada. Não sei. Conecto. Nenhum sinal, e a culpa é minha. Deixemos para amanhã, vou ali morrer mais um pouco e quem sabe não reste muito para ser morto pelo vazio. Pela própria incompetência. De novo: suposição.