“Cara, detesto gente que não atualiza blog!”.
– Este sou eu reclamando. Espera. – Levou a mão ao ombro da moça para mantê-la agachada, ainda que ela não houvesse feito nenhum sinal de se erguer, como se adivinhasse.
“Cara, um mês inteiro sem postar, que é que esse rapaz anda fazendo?”
O homem que espreitavam deixou o escritório. Desta vez, a menina, escondida atrás de um móvel de madeira ao lado do amigo, chegou a esticar as pernas, mas ele, que era idêntico ao homem que acabara de deixar a sala, segurou-a pelo ombro, puxando-a para baixo, bem a tempo – o espreitado retornava. Suspenderam a respiração por um instante. O espreitado deixou novamente o escritório.
– Agora sim – disse o rapaz à amiga. Levantaram-se os dois. Foram direto ao computador. A menina plugou um pen drive da parte dianteira do PC, o rapaz procurava por alguma coisa na tela avidamente, passava os olhos muito rápido pelos arquivos, com medo de não prestar atenção no que era importante. Pouco tempo, pouco tempo.
– Eu já estou voltando, – disse ele exasperado à garota que o acompanhava – se der para não fazer, seria ótimo... – engoliu a saliva desgostoso, levando a mão à testa – Tudo certo com o pen drive?
– Sim, pode gravar.
Levou pouco mais de alguns segundos. Quando já se encaminhavam para a janela por onde entraram, porém, o homem que espreitavam voltou.
– Mas que...
Encararam-se os dois, o mesmo olhar estupefato, a reprodução perfeita um do outro. Pela primeira vez eram capazes de ver, por si mesmos, o que só podiam se contentar em ter como uma idéia, através de imagens, às vezes mais fiéis, às vezes menos, dependendo do ângulo da lente, da luz atrás do espelho, do ânimo do retratista. Congelaram diante do espetáculo mútuo.
A menina, alheia à estupidificação dos correspondentes, pensou rápido: sabia já o que tinha feito, porque o companheiro lhe contara. Agarrou a luminária sobre a mesa e desferiu um golpe violento na testa do espreitado, que tombou inerte.
– Droga! – exclamou o amigo dela, o que ficara de pé, levando a mão ao machucado na testa, ainda não cicatrizado. Com tudo o que acontecera, havia esquecido que ainda doía.
– Achei que dava para pular essa parte...
– Não deu...
– Então... Será que..?
– Agora só indo até o fim para saber.
Ela adiantou-se para a janela. Olhou para trás ao pressentir que o companheiro não a seguia.
– Anda logo!
– Só um momento!
Agachou-se ao lado do homem caído no chão, de espreitado a abatido, e logo espreitador novamente, como ele bem sabia. Suspirou. Então era essa a expressão que tinha enquanto dormia. Seria incapaz de imaginar-se assim tão sereno. Delicadamente, passou os dedos sobre a testa do homem desmaiado – gostava tanto que lhe acariciassem a testa, mas nunca lhe adivinhavam esse gosto. O seu eu idêntico inconsciente reagiu ao toque, ele quase caiu para trás.
– Anda logo! – ela repetiu raivosa entre os dentes.
– Este sou eu reclamando. Espera. – Levou a mão ao ombro da moça para mantê-la agachada, ainda que ela não houvesse feito nenhum sinal de se erguer, como se adivinhasse.
“Cara, um mês inteiro sem postar, que é que esse rapaz anda fazendo?”
O homem que espreitavam deixou o escritório. Desta vez, a menina, escondida atrás de um móvel de madeira ao lado do amigo, chegou a esticar as pernas, mas ele, que era idêntico ao homem que acabara de deixar a sala, segurou-a pelo ombro, puxando-a para baixo, bem a tempo – o espreitado retornava. Suspenderam a respiração por um instante. O espreitado deixou novamente o escritório.
– Agora sim – disse o rapaz à amiga. Levantaram-se os dois. Foram direto ao computador. A menina plugou um pen drive da parte dianteira do PC, o rapaz procurava por alguma coisa na tela avidamente, passava os olhos muito rápido pelos arquivos, com medo de não prestar atenção no que era importante. Pouco tempo, pouco tempo.
– Eu já estou voltando, – disse ele exasperado à garota que o acompanhava – se der para não fazer, seria ótimo... – engoliu a saliva desgostoso, levando a mão à testa – Tudo certo com o pen drive?
– Sim, pode gravar.
Levou pouco mais de alguns segundos. Quando já se encaminhavam para a janela por onde entraram, porém, o homem que espreitavam voltou.
– Mas que...
Encararam-se os dois, o mesmo olhar estupefato, a reprodução perfeita um do outro. Pela primeira vez eram capazes de ver, por si mesmos, o que só podiam se contentar em ter como uma idéia, através de imagens, às vezes mais fiéis, às vezes menos, dependendo do ângulo da lente, da luz atrás do espelho, do ânimo do retratista. Congelaram diante do espetáculo mútuo.
A menina, alheia à estupidificação dos correspondentes, pensou rápido: sabia já o que tinha feito, porque o companheiro lhe contara. Agarrou a luminária sobre a mesa e desferiu um golpe violento na testa do espreitado, que tombou inerte.
– Droga! – exclamou o amigo dela, o que ficara de pé, levando a mão ao machucado na testa, ainda não cicatrizado. Com tudo o que acontecera, havia esquecido que ainda doía.
– Achei que dava para pular essa parte...
– Não deu...
– Então... Será que..?
– Agora só indo até o fim para saber.
Ela adiantou-se para a janela. Olhou para trás ao pressentir que o companheiro não a seguia.
– Anda logo!
– Só um momento!
Agachou-se ao lado do homem caído no chão, de espreitado a abatido, e logo espreitador novamente, como ele bem sabia. Suspirou. Então era essa a expressão que tinha enquanto dormia. Seria incapaz de imaginar-se assim tão sereno. Delicadamente, passou os dedos sobre a testa do homem desmaiado – gostava tanto que lhe acariciassem a testa, mas nunca lhe adivinhavam esse gosto. O seu eu idêntico inconsciente reagiu ao toque, ele quase caiu para trás.
– Anda logo! – ela repetiu raivosa entre os dentes.
Deixou-se tombado, o outro, foi correndo à janela. Tinha ainda muito que fazer. Olhou pela última vez para aquele escritório. Saudoso. Finalmente, foi-se embora pela janela atrás da amiga, que já estava lá adiante no estacionamento, mente ocupada com a próxima etapa.
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